Por Dra. Lih Vitória, Biomédica
O Papilomavírus Humano (HPV) é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns no mundo. O Ministério da Saúde estima que cerca de 80% dos adultos sexualmente ativos entrarão em contato com o vírus ao longo da vida. Entre os mais de 170 genótipos de HPV identificados, os tipos 16, 18, 31 e 45 estão associados a um maior risco de desenvolver câncer cervical, vulvar, vaginal, anal e orofaríngeo. A descoberta da relação entre HPV e câncer cervical remonta a 1976, quando Harald zur Hausen sugeriu essa conexão. Seus estudos posteriores levaram à identificação dos tipos 16 e 18 como responsáveis pela maioria dos casos de câncer de colo de útero, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina. Entre os fatores de risco para infecção persistente pelo HPV estão:
- Início precoce da atividade sexual;
 - Múltiplos parceiros sexuais;
 - Tabagismo;
 - Baixa imunidade;
 - Falta de exames preventivos regulares;
 - Não adesão à vacinação.
 
A vacina contra o HPV é uma ferramenta eficaz na prevenção do câncer cervical e outras condições associadas ao vírus. Estudos mostram que países com altas taxas de vacinação conseguiram reduzir significativamente a incidência do câncer do colo do útero. No Brasil, a vacina faz parte do Programa Nacional de Imunização (PNI) e está disponível gratuitamente para meninas e meninos a partir dos nove anos.
Você sabia? A Cannabis pode ajudar a reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas e dor. Além disso, estudos mostram que ela pode contribuir para o alívio da dor e reduzir o uso de opióides em mulheres com câncer.
O Papel da Cannabis na Saúde da Mulher
A Cannabis tem se mostrado uma aliada importante no tratamento de várias condições de saúde, inclusive no alívio dos efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com câncer, incluindo o câncer cervical. Estudos como o realizado pela Universidade de Yale revelaram que o uso de canabinoides proporcionou alívio para sintomas como dor, náusea, insônia e neuropatia em mulheres com câncer cervical. Além disso, a Cannabis pode reduzir a necessidade de opióides em tratamentos de dor, o que é um benefício, pois evita os efeitos adversos desses medicamentos adicionando qualidade de vida aos pacientes.
No campo da pesquisa, estudos pré-clínicos têm investigado o potencial terapêutico da Cannabis em doenças como o câncer de cólon, revelando efeitos quimiopreventivos e a modulação de receptores do Sistema Endocanabinoide (SEC). Esses estudos indicam que a Cannabis pode não apenas aliviar sintomas, mas também atuar no controle da proliferação celular associada ao câncer, com efeitos diretos na modulação do sistema imunológico e no processo inflamatório.
O Progresso da Pesquisa em Cannabis e o Papel das Mulheres na Ciência!
Março é um mês de reflexão e celebração das conquistas femininas em diversas áreas, incluindo a ciência. Nos últimos anos, mulheres cientistas têm desempenhado um papel essencial em pesquisas inovadoras, especialmente na medicina e biotecnologia. Um exemplo notável é o trabalho realizado por uma pesquisadora da UNESP, Pereira (2025), que investiga o potencial terapêutico da Cannabis no tratamento de cânceres associados ao HPV. Essa pesquisa destaca não apenas a importância da Cannabis na oncologia, mas também o impacto das cientistas no desenvolvimento de novos tratamentos. Em paralelo, a conscientização sobre a prevenção do HPV e a vacinação continuam sendo pilares fundamentais para a saúde feminina.
Cannabis na Oncologia: Benefícios e Desafios
A Cannabis tem sido estudada por seu potencial terapêutico no alívio dos sintomas da quimioterapia, como náuseas, vômitos, dor e perda de apetite. Além disso, pesquisas sugerem que os canabinoides podem modular processos celulares envolvidos na proliferação tumoral.
Estudos recentes indicam que os canabinoides podem atuar na modulação do sistema endocanabinoide (SEC), influenciando diretamente mecanismos celulares envolvidos na progressão do câncer. Por exemplo:
- Uma análise da Universidade de Yale revelou que 83% das mulheres com câncer cervical que utilizaram Cannabis relataram melhora nos sintomas do tratamento, como ansiedade, dor e insônia.
 - Um estudo pré-clínico de 2020 indicou que o CBD possui efeitos quimiopreventivos em modelos experimentais de câncer colorretal, inibindo a proliferação celular via receptores CB1 e CB2.
 - Outro estudo de 2016 demonstrou que o uso de canabinoides reduziu significativamente o crescimento tumoral em camundongos com câncer de cólon.
 
Apesar dessas descobertas, a prescrição de Cannabis deve ser baseada em critérios científicos rigorosos. Profissionais de saúde, como médicos, biomédicos e dentistas, têm a responsabilidade de garantir que a terapia canábica seja integrada a tratamentos convencionais de forma segura e eficaz.
O Papel da Ciência e da Educação na Conscientização
A resistência ao uso da Cannabis na medicina ainda persiste devido ao estigma histórico e ao proibicionismo, que carece de embasamento científico. Assim como a vacinação contra o HPV enfrentou resistência no passado, a aceitação da Cannabis como ferramenta terapêutica exige educação pública e capacitação profissional.
Para avançarmos nesse campo, é essencial:
- Incentivar a formação de profissionais de saúde sobre o sistema endocanabinoide;
 - Integrar a Cannabis medicinal aos currículos universitários;
 - Promover políticas públicas que ampliem o acesso seguro aos tratamentos;
 - Apoiar pesquisas que explorem o potencial terapêutico da Cannabis em diversas condições de saúde.
 
A ciência é a nossa melhor ferramenta para salvar vidas. Assim como a vacinação contra o HPV tem o potencial de erradicar cânceres relacionados ao vírus, a pesquisa em Cannabis pode revolucionar o tratamento oncológico.
Que possamos reconhecer e valorizar o trabalho das mulheres na ciência, apoiar a pesquisa baseada em evidências e promover a educação como caminho para um futuro mais saudável e inclusivo.
A luta pelo acesso a terapias baseadas em Cannabis é uma questão de justiça social e saúde pública. No mês da mulher, é essencial conscientizarmos a importância da pesquisa científica, educação e políticas públicas para garantir que todas as mulheres, independentemente de sua condição social ou econômica, tenham acesso a tratamentos que possam melhorar sua saúde e qualidade de vida. A Cannabis, com sua gama de benefícios terapêuticos, tem o potencial de transformar o tratamento do câncer e outras condições, mas seu uso deve ser pautado pela ciência, pelo conhecimento e pela seriedade no tratamento de cada paciente.
Neste mês de março, celebremos as mulheres e a importância de cuidar da saúde de forma integral, com acesso a tratamentos modernos e eficazes, como a Cannabis, e um compromisso contínuo com a educação e a conscientização. A ciência está ao nosso lado, e a transformação na saúde da mulher depende de cada um de nós.
Referências
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